quinta-feira, 21 de julho de 2011

O Segredo da Samaritana





Um dos encontros mais belos do quarto evangelho é o de Jesus com a Samaritana. Muito conhecido, muito explorado, já exaustivamente comentado o diálogo travado entre esta mulher pagã, não judia, com Jesus. Ela que se torna grande e corajosa evangelizadora, após ter ela mesma bebido da água viva oferecida por Jesus, e não somente da água do poço de Jacó. Entretanto, o que há de novo neste encontro que seja luz para nós? O que há de novo na Palavra de Deus que nos faça crescer na vivência concreta e diária do Evangelho?


Creio que valha a pena nos determos no que acontece entre o encontro de Jesus com essa mulher e a partida dela, em missão, em aberta evangelização na região onde vivia. O que acontece entre o primeiro passo e o resultado dele é o encontro de amor com o Esposo. É Jesus quem toma a iniciativa de puxar conversa. Ele está à espera. Isso nos dá a certeza de que, como evangelizadores, semeadores da Palavra e construtores do Reino, (aquilo que somos chamados a ser quando assumimos a vocação Shalom), nosso papel é levar a pessoa, qualquer pessoa, todas elas, ao encontro de Jesus, onde Ele a espera, o espera. Jesus espera aqueles que são seus e lhes foram dados pelo Pai e com eles trava um diálogo de verdade de, na verdade, começando um relacionamento pessoal que vai ao encontro de tudo o que a pessoa precisa para se tornar adoradora e livre em ‘espírito e em verdade’.

Seguindo os passos da Samaritana e vendo esta conversa acontecer, notamos que o Senhor a alcança onde está a sua maior vulnerabilidade: na sua vida sexual, nos seus afetos e emoções, nos seus relacionamentos amorosos com o sexo oposto. Sem que Ele alcance esta dimensão da sua existência ela não poderia se tornar aquilo que ela vem a ser: um testemunho livre e eficaz. Não sei se entre nós há muitas pessoas que tenham tido cinco maridos ou cinco mulheres, cinco ‘companheiros ou companheiras’, com quem tenham vivido maritalmente. Mas creio que entre nós há inúmeros corações que amaram e se apaixonaram e se envolveram emocionalmente e até fisicamente com cinco ou até mais do que cinco pessoas. E é aí que Jesus quer tocar, quer pensar as feridas (sendo Ele mesmo o Bom Samaritano!), quer soprar ressurreição. Jesus não se escandaliza absolutamente com nada que diz respeito a nós, pois ele sabe o que há no coração humano, mas Ele seguramente quer nos dar um sopro de vida que nos sacie a sede de amor, libertando-nos de tantos jogos e comportamentos que só nos tem levado à dor, à solidão e ao pecado. Ele quer se apresentar a nós como o Esposo, ensinando-nos a não mais buscar nas pessoas aquilo que somente Deus pode dar. Ele é o Esposo que nossas vidas anseiam sofregamente encontrar.


Quando a Samaritana replica e pede: ‘Dá-me de beber!’, ela pede a Jesus o dom do Espírito para conseguir libertar-se de suas desordens afetivas. E aí aparece o Esposo que se apresenta e pede água e dá água viva! Seguramente naquele tempo, mesmo havendo fofoca e falatório, não poderia haver tanta exposição das desordens sexuais-comportamentais à luz do dia como vemos hoje na TV, no cinema, na internet e no ambiente social que nos cerca e no qual vivemos. Mas seja às claras, seja escondido, pois as realidades existenciais do ser humano são atemporais, o Senhor nos espera para que a Ele entreguemos todas as desordens sexuais e relacionais presentes em nossa história.


Não adianta abafar, não adianta esconder, nem tampouco negar as marcas deixadas em nós, no corpo, na mente, nos afetos e na alma, pelas concupiscências de nossa própria carne e da carne dos outros em nós! Quantas pessoas sofreram agressão sexual, abuso sexual! Quantas pessoas sentem em si mesmas a desordem e a compulsão manifestada no homossexualismo, na masturbação, nos jogos de sedução e manipulação do próprio corpo e do corpo alheio, entre homens e mulheres, entre mulheres e homens! Quanto mau uso do corpo humano em busca de amor e de segurança!


Mesmo que já estejamos ativamente empenhados na evangelização, o Senhor nos convida a não esconder nada dele, a não deixar qualquer sombra maculando nossa alma. O Senhor quer fazer brilhar a limpidez da água viva onde se encontram as vergonhas e a mesquinhez, nosso calcanhar de Aquiles, nosso pecado e tudo o que ficou distorcido como consequência dele no entendimento que temos sobre nós mesmos. Jesus quer nos ensinar a viver plena e livremente o dom da nossa sexualidade e identidade, o dom de nosso corpo. Jesus não nos quer vivendo de aparências, com vida dupla ou de discursos. Jesus pede que chamemos ‘os nossos cinco maridos’ – e cada um sabe o nome que cada um assumiu em sua história de vida! – e os apresentemos a Ele. Só assim Ele pode se tornar verdadeiramente nosso Esposo.


E nesse caminho, é a graça da castidade, dom do Espírito, que fará de Jesus verdadeiramente o Esposo. É o dom da castidade que torna Jesus o grande amor de nossas vidas, e coloca aos poucos a ordem do amor original em nós. Seja qual for nosso estado de vida Jesus não nos quer impuros ou puritanos, reprimidos ou depravados. O mais belo de todos os homens, quer fazer este novo em nós: quer arrancar-nos das mentiras e das manipulações da cultura secular que nos empurra para o pecado e para a mentira, e quer fazer de todos nós belos e belas como Ele, almas esposas. Só assim nosso testemunho será fecundo como foi o da Samaritana. Só assim daremos prova de verdadeira conversão. E que o Esposo nos ajude a jamais desanimar...

- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 
por 
Revista Shalom Maná - Ed. Shalom

Nenhum comentário:

Postar um comentário